O fim da MTV e o início de uma nova era para a música

O encerramento das transmissões da MTV brasileira como canal de televisão aberta marcou o final de uma era e, ao mesmo tempo, demonstra muito bem a forma como a popularização das redes sociais e a internet em geral mudou o consumo de conteúdo musical.

Até o começo dos anos 2000, era preciso esperar a noite de sexta-feira para conferir na programação da MTV o lançamento de determinado videoclipe. Tudo era feito com um enorme suspense: durante a semana, várias chamadas anunciavam a novidade da banda que lançaria o clipe, convidando o público a acompanhar a primeira transmissão do novo conteúdo.

Depois da transmissão, linhas telefônicas ficavam congestionadas de jovens que queriam compartilhar com seu grupo de amigos as primeiras impressões. Quem tinha gravado o clipe em seu videocassete poderia assistir novamente, caso contrário era provável que somente no dia seguinte ele se repetisse.

A mudança começou em 2005, com a criação do YouTube. A rede de compartilhamento de vídeos deu início à grande parte da acessibilidade que temos hoje. Se antes, para ver um clipe, era preciso esperar a MTV transmitir o conteúdo, conferir fitas ou abrir arquivos digitais em discos (que muitas vezes eram vendidos como extras nos CDs de bandas), agora com poucos cliques na tela ele passava a aparecer em seu computador.

Em poucos anos, o YouTube virou um fenômeno e as gravadoras começaram a perceber que ele era um poderoso instrumento para a divulgação de bandas. E foi exatamente nesse ponto que a MTV começou a ficar de lado.

Em 2009, o YouTube já era chamado de “A nova MTV”, algo que foi potencializado ao longo dos últimos anos. Canais exclusivos de gravadoras e grupos de entretenimento, como o VEVO, começaram a priorizar a promoção na internet, levando a exclusividade que antigamente era de rádios e canais de televisão para a web.

Automaticamente, os anunciantes seguiram as gravadoras, transferindo investimentos para canais online. Com isso, o crescimento do YouTube foi inevitável, enquanto alguns veículos tradicionais com o foco em música foram ficando de lado.

udo isso é potencializado com a divulgação de conteúdo pelo novo “boca a boca”, que ocorre em compartilhamentos de redes como Facebook e Twitter. Em poucos minutos uma nova música vira o assunto mais comentado das redes, atraindo cada vez mais acessos ou visualizações para os vídeos.

Dessa forma, você pode conhecer em segundos novos artistas ou músicas, o que, antigamente, poderia levar dias, semanas ou até mesmo meses para chegar aos seus ouvidos. Isso gerou mais um novo fenômeno, que são as celebridades instantâneas.

“Um dia, todos terão direito a 15 minutos de fama”

Nunca a famosa frase de Andy Warhol fez tanto sentido: hoje, qualquer pessoa pode fazer sucesso, com ou sem talento. O sucesso quase que instantâneo pode acontecer para qualquer música boa ou apenas canções que grudem na cabeça ou, ainda, para clipes que tenham elementos muito diferentes e até mesmo bizarros.

Exemplos disso são os hits Gangnam Style, o mais recente The Fox (What Does the Fox Say?) e até mesmo o antigo Friday, “eternizado” na rede por Rebecca Black. E não é necessário nem mesmo ter a intenção de fazer uma boa música, seja ela autoral ou não. A música de Bar Mitzvah do jovem Nissim Ourfali virou uma febre no Brasil, algo que inicialmente era apenas uma brincadeira entre sua família.

Mas a grande oportunidade é mesmo para pequenas gravadoras e músicos independentes. Com uma boa estratégia, boas músicas e um pouco de dedicação é possível fazer qualquer faixa rodar o mundo.

Alguns métodos de gravação caseiros já são capazes de entregar resultados muito próximos aos de estúdios profissionais, com um investimento relativamente baixo. Sistemas de monetização, como o Kickstarter, permitem levantar dinheiro para a gravação de CDs, e redes como o MySpace permitem ampliar a divulgação de músicas sem muito trabalho.

Embora não exista uma fórmula do sucesso, é fato: o YouTube hoje é o termômetro da música, de uma forma tão significativa como a Billboard foi nas últimas décadas. Embora a tendência seja de um mercado cada vez mais voltado para a portabilidade, com cada vez mais concorrência e, automaticamente, com carreiras mais passageiras, precisamos esperar para descobrir o que o futuro reserva para a indústria fonográfica.

Sem dúvidas essa projeção inclui uma variedade tão grande de lançamentos que chega a ser inconsumível, além de gerar muitas oportunidades para todos os tipos de produção.